Depois de dois meses a matar saudades em casa retomámos a nossa viagem. Fizemos escala em Barcelona, onde estivemos com o Nuno, o Cristiano, o Roger, a Mar e a Verinha e de madrugada seguimos para Reykjavík. Alugámos a caravana mais barata que conseguimos encontrar e fizemos-nos à estrada. Em sete dias demos a volta à ilha, no sentido dos ponteiros do relógio. Fizemos uma média de 300km por dia, dormimos no carro todas as noites, apanhámos chuva e frio quase todos os dias, comemos massa com atum em quase todas as refeições e mesmo assim foi um dos nossos sítios favoritos de toda a viagem. Cataratas, vulcões, glaciares, fjords, e pequenas vilas encaixadas no meio de todos estes “acidentes” geográficos fazem da Islândia um lugar único e completamente diferente de qualquer coisa que tivéssemos visto antes.
Mais de cem fotografias, depois de uma selecção muito difícil, para mostrar o que vimos numa semana, mostra bem a quantidade e qualidade da beleza natural da Islândia. Mesmo assim tivemos que prescindir, ou por falta de tempo ou de bom tempo, de muitos sítios. Fica para a próxima!
A ilha de Olkhon no lago Baikal é um dos pontos mais famosos no trajecto do transiberiano, e com razão. Foi talvez o nosso sítio preferido em todo o percurso. A sua geografia particular, uma ilha com 70km de comprimento, no meio do maior (em volume) lago de água doce do mundo, com montanhas, taiga (floresta característica desta zona), estepe e até deserto, oferecem-lhe paisagens únicas e uma beleza fora do comum. Para além de tudo isto, Olkhon é um lugar especial também pela população de 1500 habitantes que ali vive e pela sua cultura. São maioritariamente Buryats, um grupo indígena que se divide entre esta zona da Sibéria e o norte da Mongólia, originalmente nómadas (na ilha não tanto), praticantes do Shamanismo e com traços asiáticos (chegam a parecer esquimós). Segundo os Buryats, Olkhon é um local sagrado, principalmente Shamanka, daí todas as faixas de cores penduradas nas árvores e rochas. Embora seja pouco dado a misticismos, a verdade é que sem saber explicar porquê, este lugar deixou-me uma sensação diferente de todos os outros que visitámos.
Leonid, um tipo impecável, dono do hostel onde ficámos, emprestou-nos duas bicicletas. A dele ficou para mim, e a da filha que vive em Barcelona, para a Eli. Passámos o dia a andar de bicicleta pela ilha a desfrutar de um raro dia de Sol siberiano e das paisagens impressionantes deste lugar. À vinda encontrámos o Richard (que tínhamos conhecido no autocarro) pelo caminho. Descemos das bicicletas e andámos com ele. Era um tipo diferente, muito religioso, quase fanático, um missionário que estava de viagem há 7 anos com a missão de espalhar a sua versão da palavra do “Our Lord Jesus Christ” e de manter as pessoas com quem se cruzava “on the way of the Light”. Conseguimos desviar o tema da conversa para a família e passámos bem a meia hora de caminho que partilhámos com ele.
À noite encontrámos o Hans, um francês que parece alemão, mas na verdade o que tem é ascendência holandesa, e depois de jantarmos com ele fomos ter com os outros dois franceses que vinham connosco no autocarro, o Dennis e o amigo (não me lembro do nome). Passámos um bom bocado entre cervejas e conversas. Não era a última vez que os íamos ver, mas mais sobre isso num post mais à frente.
No dia seguinte voltámos para Irkutsk. Mesmo caminho, mesmas paisagens e o mesmo prazer em vê-las passar pela janela.
Chegámos a Irkutsk de manhã, depois de 19h de comboio. Deixámos as malas no Rolling Stone Hostel, onde encontrámos um casal de dinamarqueses que tínhamos conhecido no comboio entre Kazan e Krasnoyarsk, e fomos ver as vistas. Passeámos pelo rio, pelas ruas com casas típicas de madeira e pelo 130 kartval (um bairro típico renovado com bons hotéis, cafés e restaurantes).
No dia seguinte saímos cedo para a ilha de Olkhon, no lago Baikal. Entre as paisagens espetaculares que íamos vendo pela janela e a conversa que surgiu com o Hans, o Richard e o Dennis, os nossos companheiros de viagem com quem nos voltaríamos a encontrar, as 6 horas de caminho passaram a correr.
Depois de voltarmos de Olkhon, passámos mais um dia em Irkutsk antes de seguirmos para Ulan Ude, a nossa última paragem na Rússia. A viagem de comboio entre estas duas cidades é provavelmente a mais bonita de todo o transiberiano com vistas incríveis sobre o lago Baikal. Por isso decidimos viajar de dia e reservámos bilhetes à janela, do lado do lago. Valeu a pena!
Páramos aqui uma noite para descansar do comboio. Chegámos de manhã e depois de deixar as mochilas no hostel, fomos de avtobus até aos arredores da cidade para visitar o parque nacional Stolby. Apanhámos uma chuvada/nevão e o teleférico que subia a montanha para onde tínhamos que ir estava em manutenção. Resultado, subimos a outra montanha, noutro teleférico, e depois de nos apercebermos que não podíamos sair dali a pé, voltamos para baixo de teleférico outra vez. Valeu pelas vistas…
No hostel conhecemos um casal de ingleses que tinham acabado de fazer um rally de 17000km pela Rússia, Mongólia, Cazaquistão, etc…, num Opel Corsa.
À saída perdemos um comboio pela primeira vez. Apanhámos o seguinte, 2h depois. Como castigo calhou-nos no compartimento o gajo mais mal cheiroso da Rússia. Depois de 19h a suster a respiração lá chegámos a Irkutsk. Pelo caminho vimos a primeira neve a sério. Pelo que não foi tudo mau.
Base da montanha
A subir a montanha errada
Vistas
A montanha certa lá ao fundo. E a cara de desilusão por não poder chegar lá.
Páramos umas horas em Novosibirsk para mudar de comboio. Esta cidade é a 3a maior da Rússia e capital da Sibéria. Tem um teatro maior que o Bolshoi de Moscovo, que vimos por fora e um museu de Nikolai Rerikh, pintor/filósofo russo, que vimos por dentro. Este Rerikh fez uma expedição de 5 anos pela Mongólia, China e Tibete nos anos 20. Nós vamos fazer parecido mas um bocado mais rápido. Próxima paragem, Krasnoyarsk.
Entre Kazan e Tobolsk, atravessámos os montes Urais, deixando a Europa para trás. Chegámos à Sibéria, primeira paragem no continente asiático, mais precisamente a Tobolsk. É uma cidade pequena que já foi capital desta região e a terra natal de Mendeleev, o da tabela periódica. Tem um Kremlin imponente no cimo de um monte com vistas espetaculares sobre o rio Irtich (que sobe até ao Oceano Ártico) e a floresta, que quase entra pela cidade dentro. Chegámos no último dia do Verão, estavam 4°C, saímos no segundo do Outono com -1°C. Resumindo, não foi pelo calor que viemos até à Sibéria.
Chegámos a Kazan às 6 da manhã. Deixámos as malas no hostel e passámos o dia a passear pelo centro. No dia seguinte, alugámos outra vez bicicletas compartilhadas. Desta vez não nos preocupámos com o tempo limite (ver post de Moscovo) e andámos durante 3 horas à volta da cidade. Kazan, capital do Tartaristão, é uma cidade maioritariamente muçulmana, famosa pela coexistência pacífica de várias religiões. Entrei pela primeira vez numa Mesquita, coisa que pensava ser proibida a não crentes.
Como a linha de comboio que liga Moscovo ao Oriente não passa por Suzdal ,daí parecer ter ficado parada no tempo, fomos de autocarro até Vladimir para embarcar outra vez no Trans-Siberiano. É uma cidade com duas catedrais situadas no cimo de uma colina e com boas vistas sobre o Rio Kliazma.
Depois de um comboio noturno fizemos escala em Nihzny Novgorod. Cidade grande situada na confluência do Rio Oka com o Volga. Tivemos tempo para dar uma volta pelo centro, descer e subir os 437 degraus da Escadaria do Chkalov, ver o Kremlin, beber uma bica e entrar outra vez no comboio rumo a Kazan.
Já vamos com uma semana de atraso. Não é fácil fazer posts na Sibéria…
Depois do bulício das grandes cidades escolhemos Suzdal, cidade geminada com Évora (obrigado pai!) 200km a nordeste de Moscovo, para recarregar baterias antes de entrarmos novamente no comboio rumo a Este.
Chegámos a Moscovo no dia seguinte à celebração do seu 870° aniversário. Alugámos umas binas daquelas que só se podem usar 30min de cada vez e percorremos toda a cidade (o micro-centro, que já é muito…) a acelerar de check point em check point para não termos que pagar a multa de 50cents. Valeu a pena… Grande cidade!